segunda-feira, 31 de outubro de 2022

sábado, 22 de outubro de 2022

Lançamento: Poema épico "A independência do Brasil" em outubro!

 

"A independência do Brasil" - Suntuosa obra de Teixeira e Sousa, poema épico com 13.352 versos decassílabos, agrupados em 1.669 oitavas-rimas, narra o embate do Demônio do Despotismo com o Anjo do Brasil em uma sucessão de episódios sobre a historiografia da independência brasileira reproduzidos aqui na íntegra - ipsis litteris - do português da produção original de meados do século XIX. Repleta de relatos de fatos históricos mesclados com o furioso embate no mundo maravilhoso proporciona ao leitor um sem fim de descobertas sobre nossa própria história e diversos personagens nacionais. Um verdadeiro ode ao Brasil e sua história. Com edição de Dennys Andrade e a ilustre apresentação de Luiz Philippe de Orleans e Bragança.


Versão física nas suas livrarias virtuais! Também na Livraria do COF: https://livraria.seminariodefilosofia.org/a-independencia-do-brasil--poema-epico
Versão digital na Amazon: https://www.amazon.com.br/independ%C3%AAncia-Brasil-Poema-%C3%A9pico-ebook/dp/B0BGQB3S7Q/

 

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sexta-feira, 14 de outubro de 2022

PEQUENO TEATRO DA LIBERDADE - 12.1/14

Ato XII.Cena1 - Lei do Inquilinato feliz

VOANDO RUA ABAIXO ATÉ encontrar as pessoas que haviam deixado a praça momentos antes, Jonas pensa que, agora, no meio da multidão, estará a salvo do sábio paranoico. A maior parte das pessoas para em frente a três pequenos sobrados. O primeiro, é uma pensão caindo aos pedaços, ainda com partes das paredes pintadas em azul, parecendo abandonado; o segundo, pintado de amarelo, é uma pensão apinhada de gente, com trapos velhos secando nas janelas, pendurados por todos os lados; o terceiro e último sobrado está pintado em um vermelho novo, tão forte, que chega a refletir a luz da Lua cheia que desponta no horizonte. Está lindo, parecendo que sequer fora habitado. Jonas observa as pessoas e os sobrados, tentando entender a situação e não nota que também é observado por uma menina que se aproxima, curiosa.

JONAS
- Por que será que todos ficam no sobrado amarelo? - A mão pequena e delicada da menina de vestido azul com laços amarelos lhe toca o ombro e Jonas dá um pulo de susto. Ele congela no tempo por um instante mas logo é trazido de volta à superfície pela doce voz daquela garota.

 ANA
- Desculpa, eu não queria incomodá-lo. - Diz, achando graça no menino assustado.

JONAS
- Ah.. foi nada! Incômodo nenhum. - Responde, com o coração ainda batendo forte pelo susto.

ANA
- Saberia me dizer se alguém comentou sobre um lugar para alugar na pensão amarela? - Pergunta, entre os gritos da molecada do sobrado amarelo abarrotado de gente.

JONAS
- Na pensão amarela?… ah! sim... claro, claro. (concordando positivamente) Digo... não, não! (Balançando a cabeça, em negativo) Não ouvi ninguém comentando, não sei de nenhum lugar para alugar, sinto muito.

ANA
- Ah, que pena... é inútil procurar… eu não consigo mais... - lamenta, choramingando.

JONAS
- É, veja, moça... por que você não procura uma vaga naquelas outras pensões? - Tira um lenço do bolso, lhe oferecendo para enxugar as lágrimas.

ANA
- Obrigada, obrigada. Mas é impossível. - Responde, secando as lágrimas fugidias, abaixo dos olhos.

JONAS
- Mas por quê? Parece que tem bastante espaço ainda.

ANA
- Sim, na verdade estão vazios. Minha família costumava morar naquele sobrado azul… (devolve o lenço) isso, até Dirce Tramoia convencer o Conselho dos Iluminados a aprovar a
lei do Inquilinato Feliz.

JONAS
-
Lei do Inquilinato Feliz? Soa como uma coisa boa, não?

ANA
- Não se engane… desculpa, qual é a sua graça, mesmo?

JONAS
- Jonas, me chamo Jonas.

ANA
- Bem, Jonas, os inquilinos reclamavam bastante que muitas pessoas estavam se mudando para os sobrados, de obras acontecendo e que os proprietários insistiam em aumentar os aluguéis. Todos acharam isso muito injusto e chamaram a Dirce Tramóia, explicando que não queriam pagar nada a mais por tudo aquilo e exigindo que o Conselho dos Iluminados proibissem os proprietários de alterar o valor dos alugueis.

 JONAS
- E eles conseguiram?

ANA
- Sim, conseguiram. O conselho aprovou a lei e contratou uma grande quantidade de fiscais para garantir que os proprietários cumprissem as novas regras. Também criou novas taxas, que é para cobrir o custo destes fiscais, comprar equipamentos, etc, etc, etc…

JONAS
- E os proprietários respeitaram a lei? As pessoas ficaram felizes?

ANA
- Sim, até que no início deu certo mas, depois, simplesmente não havia dinheiro para fazer a manutenção e as reformas deixaram de serem feitas. Com a inflação e o preço de tudo subindo, o valor fixo do aluguel já não cobria nem a manutenção básica dos sobrados e os proprietários simplesmente decidiram que ficava mais barato abandonar o sobrado azul, cheio de problemas… e, como dizem que não vale a pena construir para alugar, todo mundo foi para o único lugar que restou, a pensão do sobrado amarelo.

JONAS
- E você quer alugar um espaço para morar no sobrado amarelo, correto? Deve haver algum outro modo de você conseguir, quem sabe, dividir um quarto com uma outra família?

ANA
- Ah, seria ótimo! Mas é impossível, é contra as
normas de habitação (fazendo aspas com as mãos).

JONAS
-
Normas de habitação, o que é isso?

ANA
- É um código estúpido que estabelece o uso das habitações. Certas coisas como o número certo de famílias por pensão, o número adequado de pias por banheiro, a quantidade permitida de pessoas por quarto… e por aí vai… os Iluminados dizem que é para orientar o estilo de vida dos cidadãos! E nós ficamos na rua! Sem código, sem pias, nem privacidade! - Reclama, perdendo a paciência.

JONAS
- Mas… e o sobrado vermelho? Por que ninguém muda para lá?

ANA
-
Normas de zoneamento… (procura pelo chão e apanha um graveto que usa para riscar um traço no chão) é mais ou menos assim: as pessoas têm permissão para dormir deste lado da linha, à noite, mas tem que trabalhar do outro lado da linha, durante o dia. O prédio amarelo e o azul ficam deste lado, já o prédio vermelho, fica no lado de trabalhar. Só que não tem nenhuma empresa aqui e ninguém pode morar nele!

 

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terça-feira, 11 de outubro de 2022

PEQUENO TEATRO DA LIBERDADE - 12.2/14

Ato XII.Cena2 - A gangue da democracia

MAL TERMINOU DE DIZER AQUELAS palavras e passa alguém correndo, gritando: “É a Gangue da Democracia! A Gangue da Democracia! Corram! Corram!!!”. Uma gritaria pavorosa toma conta da rua. Os moradores do prédio amarelo se escondem, as famílias descem correndo as escadas, alguns pulando e jogando seus pertences pelas janelas. As pessoas debandam, procurando um lugar para se esconder. Ana, ligeira, ergue-se num salto, - Temos que sair daqui, rápido! - reage, puxando Jonas pelas mãos. Uma pedra quebra a vidraça novinha do prédio vermelho e, sem demora, os dois se escondem atrás de uma parede. A gangue da Democracia aparece: meia dúzia de moleques arruaceiros e falastrões.


JONAS
- Qual é o problema desse pessoal?

ANA
- Shiu! Fale baixo, a
Gangue da Democracia consegue tudo o que quer! Eles cercam as pessoas e decidem no voto o que vão fazer com elas. Podem decidir tirar o seu dinheiro, trancar você numa caixa, até forçar a pessoa a entrar na gangue deles. E não há nada, nem ninguém que possa detê-los!

 JONAS
- E a lei não protege as pessoas dessa gangue? Cadê a polícia ou aquele monte de fiscais que estavam aqui até agora há pouco? - Um garoto passa correndo pela rua e é cercado pela gangue.

ANA
- Até tentaram, assim que a gangue se formou e começou a agir eles foram levados pela polícia até o tribunal. A gangue alegou que estava apenas seguindo o princípio de que vale a decisão da maioria e que os votos determinam tudo – legalidade, moralidade, tudo! - A gangue vota e decide pegar a camiseta do garoto. Ele não entrega e a gangue ameaça fazer outra votação para decidir se é justo bater nele ou não, e ele acaba entregando a camiseta.

JONAS
- E eles foram condenados?

ANA
- O que você acha, Jonas? (Irritada com a inocência de Jonas) Acha que eu estaria aqui, escondida se eles tivessem sido presos? Não… os juízes decidiram a favor deles, por três votos a dois. Chamaram o caso de o
Direito Divino da Maioria, que é a base das leis e do próprio tribunal. Desde então, ficaram livres para andar por ai, atrás de qualquer um que possam superar em número.

JONAS
- Como é que as pessoas conseguem viver num lugar maluco deste? Primeiro, tem os Iluminados que, ao invés de ajudarem, ficam decidindo um monte de coisas absurdas e sem noção só para agradar alguém ou algum grupo específico, agora, tem essa
gangue da maioria, que decide o que quer e os outros são obrigados a fazer… tem que haver uma maneira das pessoas se defenderem! - Desabafa, indignado com tudo naquela ilha esquisita.

ANA
- A única maneira de vencer a
Gangue da Democracia é entrar em uma outra gangue, mais numerosa. As pessoas também não correriam se pudessem se defender, sem ficar dependendo do Estado. Aliás, se isso fosse possível, duvido que existiria uma gangue como aquela em Corrumpo. - A gangue corre atrás de outra vítima e os dois saem detrás da parede.

JONAS
- É realmente terrível que as pessoas aqui tenham que lutar contra tudo e contra todos, o tempo inteiro. Que eles não tenham liberdade para inventar coisas que melhorem a sua vida... tudo o que querem é levar algum tipo de vantagem, criar alguma lei para ganharem mais ou trabalharem menos, mesmo que isto prejudique a maioria.

ANA
- A maioria do povo aprendeu a agir assim com os exemplos do dia a dia. O Conselho dos
Iluminados é que deveria proteger o povo mas as pessoas usam o poder do conselho a seu favor, seja pelo voto ou pelo suborno. No final, quando alguém manipula o conselho, pode te forçar a fazer qualquer coisa, e os Iluminados sempre saem ganhando!

JONAS
- Um governo deveria existir para preservar a paz. - Jonas esta perplexo pois sempre presumiu boas intenções nas ações das autoridades e que os representantes populares fossem guardiões da honestidade e protetores dos interesses da população.

ANA
- Jonas, lembre-se sempre (bocejando), nem toda boa intenção tem bons resultados. Sempre questione, nunca... (boceja, novamente) nunca assuma algo como verdadeiro só por que alguma autoridade ou um especialista diz que é, sempre questione… (deitando-se na grama) faça perguntas sinceras… sempre (fechando os olhos) presuma alguma outra coisa... - Ana dorme profundamente e Jonas a cobre com um pedaço de papelão, deitando-se em outro canto.

 

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sábado, 8 de outubro de 2022

PEQUENO TEATRO DA LIBERDADE - 13/14

Ato XIII - Mendigos, sábios e Iluminados

 Uma magnífica aurora aurirrósea desponta no céu atrás da montanha acordando Jonas, salpica seus olhos com um espetáculo sublime, diante do qual aqueles banais sobrados parecem diminutos e seus problemas ainda mais ordinários e insignificantes. Pensa em acordar Ana mas o sorriso nos seus lábios parece emoldurar a arte celeste com sua doçura e ele decide não incomodá-la. - Se há alguém que merece um pouco de paz é essa garota. - diz Jonas. Observa o cume próximo que antes se escondia na noite e percebe que lá do seu topo poderia encontrar um caminho que o leve até o porto e, de lá, de volta para sua terra, para bem longe daquela ilha maluca. Jonas arruma o papelão que protege Ana do sereno, dá uma respirada profunda para ganhar coragem e inicia o périplo, umas boas horas até o alto da montanha, onde encontra apenas uma árvore e um abutre.


JONAS
- Ah, não! Que azar o meu! Deixo para trás um bando de abutres e o que eu encontro aqui em cima? Um abutre de verdade! - Reclama Jonas, decepcionado.

ABUTRE
- Um verdadeiro abutre. - Repete a voz, baixa e ríspida.

JONAS
- Hein? Quem está aí?!? - Jonas salta de susto e o seu coração quase sai pela boca.

ABUTRE
- Quem está aí? - Repete novamente a voz, que parece vir da árvore onde está o abutre, que permanece imóvel, pousado em seu galho.

JONAS
- Mas será que… eu estou ficando louco ou você é algum tipo de papagaio gigante? - Pergunta Jonas para o abutre, aproximando-se lentamente e tendo seus movimentos acompanhados pelos grandes olhos negros do abutre. - Vo… vo… você falou comigo?

ABUTRE
- Croááá! Mas é claro que falei! Quem mais poderia ter sido? Só estamos nós dois aqui no alto desta montanha... ou você está vendo mais alguém? - Indaga o abutre, abrindo as asas e mostrando toda a sua enorme envergadura. Jonas se assusta e cai, escondendo-se atrás da árvore.

JONAS
- Meu Deus! Um abutre falante! - Apontando assustado para a ave gigante.

ABUTRE
- E você é um menino muito tagarela… Croááá! Estamos quites. - O abutre dá uns pulinhos curtos em direção a Jonas e pergunta, desconfiado: - Diga-me, garotinho, o que você quis dizer com
deixei para trás um bando de abutres? Hein?...

JONAS
- Sinto muito se eu o ofendi, senhor abutre, não foi minha intenção. Eu me referia às pessoas lá em baixo, no vale, sempre querendo roubar ou tirar proveito umas das outras… sei lá, eu usei uma expressão de linguagem... sabe como é, eles me lembram um, ah… bem… um…

ABUTRE
-
Abutre? É isso? - Pergunta, aproximando a cabeça pelada na direção de Jonas e destacando seu alvo colar de penas na base do pescoço. 

JONAS
- Simmm… desculpe. - Responde timidamente, envergonhado.

ABUTRE
- Então, para você, rapazinho, esta ilha está cheia de... Croááá! Abutres? Pois eu lhe digo, meu amigo, é você que se deixa enganar por palavras doces e bonitas.

JONAS
- Não entendi.

ABUTRE
- Esta ilha tem sim abutres, mas também tem muitas outras criaturas: tem mendigos, homens sábios e até líderes iluminados... mas o que você não percebe é que caiu no conto mais antigo de todos e foi enganado com títulos e palavras bonitas... Croááá! - Grunhe alto e retorna para a árvore.

JONAS
- Mas isso não é nenhum conto! Abutres, mendigos, e por ai vai, são todos fáceis de entender. De onde eu venho, os abutres picam a carniça e os ossos dos mortos. É repugnante! (Diz, torcendo o nariz) Os mendigos são pessoas simples, os sábios são inteligentes e divertidos! Já os iluminados, bem, nunca vi algum para falar a verdade, mas eles ditam as regras do lugar, fazem o que é melhor para a vida do seu povo... não tem truque algum! - O vento noroeste começa a soprar forte lá no alto e aparecem as primeiras nuvens escuras no céu.

ABUTRE
- Não? Tem certeza? Pense bem no que cada um faz, comecemos por mim, o abutre... Croááá! - Grunhe e voa para o lado de Jonas, fazendo ciscar o chão enquanto mostra o que fazem os abutres. - Os abutres sempre limpam a sujeira! Não se importam se é apenas um velho ratinho que morreu atrás da moita, um cavalo azarado que caiu num buraco ou até o mais gordo dos reis, infartado enquanto caçava um coelho na floresta: se morreu e ficou no meio do caminho, os abutres limpam! Croááá!

JONAS
- Eca... nojento! - O vento se intensifica e as nuvens escuras cobrem o Sol que, há pouco, reinava sozinho.

ABUTRE
- Viu, só! E ninguém diz sequer um
obrigado, Sr. Abutre! ou, quem sabe, um muito bem, Sr. Abutre! Croááá! Nada, nenhum agradecimento. Esta ilha seria um lixão fétido, seria insuportável sem nós, os abutres. De todos os animais desta ilha o abutre é definitivamente o mais nobre, pois é o único que vê valor em todas as coisas, das mais insignificantes, até as de maior conta.

JONAS
- É, vendo por este lado, é realmente um trabalho essencial... mas os demais também têm papel importante... não é?

ABUTRE
- Hum... Croááá!... Não.

JONAS
- Como assim, não? E os mendigos, e as outras pessoas? Isto, sem falar dos sábios e até dos Iluminados. - O céu já está completamente encoberto. Um trovão surdo é ouvido ao longe, anunciando a tempestade que se avizinha.

ABUTRE
- Os mendigos não fazem nada de bom para ninguém, nem querem, a não ser para eles mesmos. Mas também não fazem mal nenhum, ao contrário, são muletas para certas almas pecadoras... Croááá! (Grunhe, dando voltas ao redor de Jonas) Já os sábios, ahh... estes são espertos demais! Usam toda a sua habilidade, toda a sua astúcia no uso das palavras para aplacar o sofrimento alheio. Eles usam a carência das pessoas e a sua necessidade de afeto, enfim... abusam das suas necessidades básicas para tirar proveito delas.

JONAS
- É exatamente isso o que o Grande Inquisidor fazia (relembrando as ladainhas que ouviu na praça do coreto), os sábios não são nada úteis... a não ser para si próprios.

ABUTRE
- E, finalmente, os Iluminados. Todos fazem tudo o que eles mandam, prendem quem os desobedecem e adulam quem dependem dos seus favores. Croááá! - Dá as costas a Jonas e volta para o seu galho.

JONAS
- Mas as pessoas votaram neles, eles foram escolhidos por serem os mais capazes, bem, isso é o que eu acho.

ABUTRE
- Capazes? Por que algumas pessoas receberam mais votos do que outras? Esses
Iluminados não passam de mendigos egoístas, vendendo favores, bajulando e enganando as pessoas em troca de votos para mais uma eleição, croá... (grunhe baixinho, meio deprimido em acabar com as ilusões de Jonas) depois, ficam por aí, desfilando como sábios, enquanto tiram tudo das pessoas... que ainda agradecem. - Jonas permanece em silêncio, olhando para o vale lá em baixo, melancólico.

JONAS
- Eu queria que as coisas não fossem assim, será que isso é possível? - Brrr-buuum!!! Os céus atroam e o tempo fecha de vez. Uma fina chuva começa a cair sobre a ilha.

ABUTRE
- Oh, sim, existe... Croááá! - Grunhindo, mas agora, de alegria, balançando a cabeça positivamente. A resposta do abutre é como um facho de luz que ilumina a tristeza no meio do temporal. Jonas pergunta novamente:

JONAS
- Um lugar onde as pessoas fossem livres para sonhar, para buscar a felicidade por conta própria? Onde todos pudessem produzir sem ter que pedir permissão para uma autoridade que não produz nada e que ainda quer dizer como as outras pessoas devem viver as suas vidas?

ABUTRE
- Você gostaria de ver? De ir até este lugar? A pergunta pega Jonas de surpresa, que arregala os
olhos.

JONAS
- Sim, sim!!! Eu gostaria muito! - Responde entusiasmado, surpreendido pela oferta maluca
da ave. O abutre desce de sua árvore e vira de costas para Jonas, batendo as suas asas um par
de vezes para tirar o excesso de água da chuva e lhe oferece as costas, para que suba.

ABUTRE
- Vamos... Croááá! Suba, que eu te levo até lá. - Jonas hesita, pensando por um momento em
toda aquela maluquice mas aceita a oferta. Sobe no lombo do abutre que bate as suas grandes
asas e alça voo, deixando a ilha de Corrumpo para trás.

 

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PEQUENO TEATRO DA LIBERDADE - 14/14

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Ato XIV - Terra da Liberdade 

Jonas deixa a ilha de Corrumpo nas costas do grande pássaro. Seus braços dão a volta no colar de penas brancas do abutre e as mãos molhadas agarram com força o peitoral do animal. Ele aproveita para descansar quando a ave voa contra o vento e plana por alguns instantes, antes de voltar a bater as asas para ganhar ainda mais altura. Os dois voam alto, acima das nuvens, e deixam a chuva e os trovões para trás, o caos e a velha noite são agora apenas lembranças distantes quando Jonas vislumbra, ao longe, o verdadeiro paraíso: cadeias de montes verdejantes por todos os lados, de mil cores cintilantes, em diversas alturas recortados. Jonas percebe também algumas casas quando o pássaro contorna uma gigantesca rocha que mais parece uma cabeça com olhos e uma boca pequena. A luz do Sol atravessa as cortinas d’água que pendem das pedras e um arco-íris celestial indica o caminho até uma campina coberta de rosas. Lá, neste campo elísio, eles pousam.

 

JONAS
- Uau! Esta foi a viagem mais incrível que já fiz na vida! Meus amigos não vão acreditar!

ABUTRE
- É bem provável que não, mesmo… Croááá! (Debocha a ave, rindo do menino) Bom, meu jovem, siga por esta trilha e após algumas horas de caminhada chegará a um lugar belíssimo, com duas fileiras de palmeiras altíssimas, de frente para uma grande lagoa. Lá, encontrará outras pessoas, boas como você. - Os olhos e a boca de Jonas se abrem em completo pasmo, surpreso com a descoberta de que ele havia voltado para sua terra.

JONAS
- Mas... eu conheço este lugar, eu estou em casa! Viva! Nem acredito!!! - Volta-se contrariado para o abutre e pergunta: - Mas você falou que ia me levar para um lugar onde as pessoas são livres e as coisas são feitas porque são o correto a se fazer...

ABUTRE
- Sim, eu disse.

JONAS
- Então, por que me trouxe de volta?

ABUTRE
- Croááá!!! Por que as coisas podem até não ser exatamente assim, mas serão, se você fizer com que sejam. Qualquer lugar, até mesmo Corrumpo, pode ser um paraíso quando as pessoas são livres de verdade. 

JONAS
- Corrumpo? Mas como? Os habitantes daquela ilha já pensam que são livres… na verdade eles são escravos, tem medo até da liberdade! Sempre tem alguém para lhes dizer o que fazer, quando fazer e como fazer. Até o pouco que lhes sobra eles entregam para o Grande Inquisidor decidir.

ABUTRE
-
Liberdade é escravidão... sim, eu já ouvi. As pessoas naquela ilha pensam que são livres, mas apenas fazem o que lhes dizem para fazer, não passam de escravos. A verdadeira liberdade é poder procurar as soluções por conta própria.

JONAS
- Mas como? São tantos problemas em Corrumpo, eu nem sei se poderiam… e mesmo que pudessem, quais seriam as soluções? O que poder ser feito? - Jonas senta-se levando as mãos à cabeça, desesperado por não conseguir encontrar soluções para os problemas que presenciou na ilha de Corrumpo.

ABUTRE
- Ah, meu jovem, você está tentando ter uma visão do futuro? - Pergunta a ave, olhando-o com ternura.

JONAS
- Eu… eu, acho que sim.

ABUTRE
- É exatamente este é o problema, não percebe? Sempre que alguém imagina uma
solução mágica ou tem uma visão de como seria a sociedade ideal, tenta forçar os outros em direção a ela.

JONAS
- Sim, claro! São capazes de mentir e até de usar as armas para conseguirem o que querem, mesmo que todo um povo pense diferente... - Lembra da sua terra e abaixa a cabeça de tristeza.

ABUTRE
- O mal não surge apenas das pessoas más, mas das pessoas boas que toleram essas más ações.

JONAS
- Então... eu não devo tentar encontrar soluções para os problemas?

ABUTRE
- Encontrar o que é melhor para si próprio, talvez, decidir pelos outros, nunca! Se as pessoas de Corrumpo, ou de qualquer outro lugar, tiverem liberdade para fazer as suas próprias escolhas seguindo o exemplo de quem elas admiram e respeitam, sim, é muito provável que elas criarão um mundo muito melhor do que qualquer outra pessoa poderia jamais ter planejado para elas.

JONAS
- Hum… entendi! (Os olhos de Jonas brilham) Se as pessoas forem realmente livres elas podem encontrar as soluções mais inesperadas.

ABUTRE
- Mas... lembre-se, os homens não são deuses... eles falham, eles tropeçam... eles erram… Croááá! E é por isso que precisam de pessoas como você, Jonas, com coragem para questionar o que parece errado, para defender o que é realmente importante e para mostrar onde o governo deve ou não se intrometer.

JONAS
- Acho que entendi mas não sei se alguém vai me dar ouvidos...

ABUTRE
- As pessoas julgarão as suas ações, não as suas palavras. Lute pela autonomia delas, respeitando a natureza de cada uma e você verá quantas delas serão tomadas pela coragem. Seja para preservar aquilo que sempre funcionou, seja para fazer as mudanças necessárias, sempre bem-vindas. Preciso partir agora, meu amigo, adeus! - O grande pássaro abre suas enormes asas e se despede de Jonas, soltando um último grunhido e alçando voo, desaparecendo por entre as nuvens.

JONAS
- Uma sociedade livre é possível, basta coragem para pensar, para falar e para agir! Principalmente quando o mais fácil é não fazer coisa alguma... Adeus, meu amigo abutre, adeus!


Fim

 

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