terça-feira, 22 de novembro de 2022

Livro 'A independência do Brasil' entra na Seleção de Livros da Biblioteca Nacional para o Ensino Fundamental 2022

 

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 "A seleção de obras literárias, em prosa e verso, é uma missão que deve ser compartilhada por pais, professores, mediadores de leitura, pesquisadores e por bibliotecas, inclusive, Bibliotecas Nacionais.Trata-se de um passo fundamental para despertar nas crianças e nos jovens o interesse pela leitura. A Fundação Biblioteca Nacional (FBN) produziu uma seleção de 100 obras literárias de autores qualificados da literatura nacional e internacional, com títulos e traduções em domínio público com foco inicial no Ensino Médio."

Link para a Seleção da BN: https://nuvem.bn.gov.br/index.php/s/ZeBayJEqaWQ2fWH 

Link para o livro 'A independência do Brasil': https://livraria.seminariodefilosofia.org/a-independencia-do-brasil--poema-epico

 


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segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Dennys Andrade fala sobre lançamento da Editora BKCC, o poema épico A independência do Brasil

 

Clique na imagem para ler a matéria no site da Revista Esmeril

 

Editora BKCC acaba de relançar um esquecido épico brasileiro, A Independência do Brasil, de Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa, autor mais conhecido pelo romance O filho do pescador (1844), considerado por muitos historiadores o primeiro romance brasileiro. Organizado em oitavas rimas, o poema de Teixeira e Sousa foi escrito entre 1847 e 1855, e reconstrói, sob a visão de um poeta romântico que guarda muita influência do período clássico, a história nacional até seu processo de Independência, foco da obra. O especial amor pelo Brasil, traço marcante da geração de Teixeira e Sousa, é a tônica deste monumento que, resgatado pelo editor Dennys Andrade, e que conta com apresentação do príncipe e deputado federal Luiz Phillipe de Orleans e Bragança, volta ao mercado editorial brasileiro depois de quase 200 anos de sua publicação.

Para saber mais sobre a edição, que preserva a grafia original do século XIX e conta com um exaustivo trabalho de pesquisa e nas notas de rodapé, confira a entrevista abaixo com o editor Dennys Andradre.


Dennys Andrade: O preceito da editora BKCC é o de fazer obras que elevem o padrão moral e intelectual da sociedade brasileira, seja enriquecendo o seu patrimônio cultural, seja defendendo e preservando a sua língua pátria.

Revista Esmeril: A BKCC acaba de relançar o esquecido épico de 1847 A Independência do Brasil, de Teixeira e Sousa. Como e por que surgiu a ideia de resgatar e reeditar essa obra?

Imbuído desta missão, qual não foi a minha estupefação e alegria em encontrar esta verdadeira relíquia literária de meados do século XIX em um fac-símile de um exemplar doado por Werneck de Aguilar em 1861 para a Biblioteca Imperial de Viena (atual Biblioteca Nacional Austríaca) fundada pelos Habsburgos no século XIV.

O épico de Teixeira e Sousa faz mais que exaltar nossos heróis e nossa história, é um verdadeiro marco temporal nacional. Resgatá-lo é ter a chance de registrar a formação da identidade nacional em primeira mão, no arrepio da Independência ainda latente à flor da pele e nos olhos do povo brasileiro, na sua forma mais genuína e plena.

Revista Esmeril: Vocês optaram por manter a grafia original do poema, de 1855. Por que fizeram essa opção?

 Dennys Andrade: A manutenção dos vocábulos originais permite capturar e reforçar o sentido original das palavras da língua portuguesa, explicando determinada intenção (significado) para uma referência específica (fato).

Preservar o texto original é também uma forma de oferecer uma raríssima oportunidade para estudos linguísticos de época. Quantas são as obras disponíveis que oferecem a oportunidade para o leitor de conhecer a forma original ou de mostrar a evolução das palavras, das grafias antigas da língua portuguesa? Quase inexistentes! É ainda um colírio para o interesse desinteressado de uma leitura riquíssima, além de estimulante e surpreendente.

Revista Esmeril: Como foi o processo de edição desse livro, desde o início? Bastante trabalhoso?

Dennys Adrade: Foi uma tarefa extremamente delicada e demorada, para ser sincero. Absorver um poema épico de tamanha envergadura já demanda uma sensibilidade extra, um olhar atento e dedicado. Muitas vezes, foi preciso ler e reler para entender as sutilezas, as nuances de palavras já desconhecidas e de verbos desusados, pesquisar sobre personagens reais e fictícios para, finalmente, transcrever tudo isto nas mais de duas mil notas de rodapé.

Posso afirmar que sempre saio maior após cada nova obra publicada, mas decifrar este épico de Teixeira e Sousa me fez um brasileiro mais completo. Mesmo sendo um rato de sebos e entusiasta da historiografia nacional, posso afirmar que fui muito mais longe no ombro deste brasileiro, mais um gigante esquecido que vamos resgatar.

Revista Esmeril: Fale um pouco do conteúdo e do estilo do poema. O que os leitores vão encontrar nela.

Dennys Andrade: São 13.352 versos decassílabos, agrupados em 1.669 oitavas-rimas, no  esquema ABABABCC. Os leitores vão encontrar inúmeros relatos históricos factuais mesclados com o furioso embate entre anjos e demônios no mundo maravilhoso. A Independência do Brasil proporciona ao leitor um sem fim de descobertas sobre a nossa própria história. Nas palavras do ilustríssimo Luiz Philippe de Orleans e Bragança, o épico de Teixeira e Sousa “canta aos nossos ouvidos aquilo que a prosa não pode exprimir”.

Esta obra literária monumental ressurge das cinzas em um momento muito especial de nossa sociedade, como um verdadeiro ode de celebração ao Brasil e sua história gloriosa.

Clique aqui para adquirir o livro na Livraria da Bruna Torlay!





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quinta-feira, 10 de novembro de 2022

PEQUENO TEATRO DA LIBERDADE - 09.2 / 14

 

Ato IX.Cena2 - O Partido Genérico

GILMAR HADES DEIXA O PALCO acompanhado do assistente enquanto o apresentador Luciano Calderón anuncia a próxima atração da tarde: o candidato Fernando Andrade, do surpreendente Partido Genérico. Jonas indaga um homem ao seu lado do que se tratava aquela apresentação e ele lhe explica que é um show popular semanal. A cada semana o famoso apresentador traz um dos candidatos da próxima eleição para a vaga no Conselho dos Iluminados e conversam sobre as principais propostas de cada um.

LUCIANO CALDERÓN
- Agradecemos demais a breve explicação de como funcionarão as próximas eleições de Corrumpo. Lembrando a vocês que os Iluminados sempre fazem de tudo, de tudo mesmo, para tornar a nossa sociedade cada vez mais justa, perfeita e igualitária. E nada mais justo que escolher os nossos representantes do modo mais seguro: o que é mais perfeito do que escolher o candidato que mais empolga o povo? Hein, hein!? - A plaquinha de aplausos sobe e a plateia bate palmas.

ASSISTENTE DE PALCO
O assistente faz sinal para o apresentador, chamando-o até a lateral do palco e cochicha em seu ouvido: - O candidato já está aqui, pode chamar... - Luciano agradece com a cabeça e inicia a introdução.

LUCIANO CALDERÓN
- Todos os candidatos fazem promessas mas o que importa, lá no fundo, o que importa mesmo, é deixar os números chatos de lado… (imitando, com outra voz)
é gasto disso, é custo daquilo… o que o povo quer de verdade é empolgação, é alegria! Tenho o prazer de receber neste palco o meu candidato, o nosso candidato: Sr. Fernando Andrade!!! - A plaquinha de aplausos sobe novamente e a plateia vibra.

FERNANDO ANDRADE
- Obrigado! Obrigado… como vai Luciano? Que recepção maravilhosa! (Mais aplausos) Se eu tivesse aqui comigo aquele aplausômetro do Dr. Gilmar com certeza seria uma nota 10! Uma perfeita nota 10 para mim! - Os aplausos aumentam e a plateia delira com o convidado.

LUCIANO CALDERÓN
- Isso! Isso é que é entusiasmo! Com essa energia, cada voto seu vai valer por dez votos dos outros candidatos! Não é verdade?

FERNANDO ANDRADE
- Essa é a ideia.- Enfatiza, sorrindo meio encabulado.

LUCIANO CALDERÓN
- Obrigado por estar conosco, nesta tarde, Fernando. Todos nós sabemos que a sua agenda de campanha é bem corrida, bom, vamos direto ao ponto. Você está surpreendendo a ilha inteira. Conta pra gente, qual é o segredo para o seu nome ser o assunto quente do momento? 

FERNANDO ANDRADE
- Veja bem, Luciano, eu sempre fiquei chocado com os altos custos das campanhas políticas dos meus companheiros aqui em Corrumpo, então, eu decidi fazer algo a respeito. Foi assim, que eu tive a ideia de fundar o Partido Genérico.

LUCIANO CALDERÓN
- O Partido Genérico! Que ideia brilhante! Conte mais, conte como é que o partido funciona...

FERNANDO ANDRADE
- O Partido Genérico funciona assim (pegando algumas folhas em branco do seu bolso), nós vamos distribuir os nossos santinhos,
buttons e cartazes por toda a ilha. E todos eles serão assim… (mostrando a folha em branco) com nada escrito, tudo em branco! Vamos cortar praticamente todos os gastos com publicitários, agências de marketing, gráficas… tudo!

LUCIANO CALDERÓN
(Interrompendo o candidato) - Mas o partido Genérico certamente tem uma posição com relação às principais demandas da população da ilha?

FERNANDO ANDRADE
- Certamente que sim, exatamente como todos os outros partidos. Nós as chamamos de
Cartas Abertas (pegando as folhas em branco). Esta aqui é a nossa proposta contra o aumento do crime em Corrumpo, esta outra, é a nossa proposta para combater a pobreza que cresce dia a dia… já esta aqui é a nossa proposta para melhorar a saúde…

LUCIANO CALDERÓN
- Mas… Fernando, olhe, (mostrando as folhas em branco para a plateia) são todas folhas em branco, candidato… não tem nada escrito nesses papéis.

FERNANDO ANDRADE
- Aí é que está a originalidade da coisa, Luciano, você não percebe? Para que perder tempo prometendo tudo, para todos? Por que não deixar que os próprios eleitores preencham os papéis com as propostas de que mais gostam? As promessas e o desempenho serão exatamente iguais, assim como antes, só que, desta forma, nós já começamos a campanha economizando uma montanha de dinheiro!

LUCIANO CALDERÓN
- Engenhoso, realmente engenhoso! Enquanto todos os outros candidatos falam em cortar custos de campanha, vocês estão realmente fazendo algo a respeito, meus parabéns!

FERNANDO ANDRADE
- Obrigado, Luciano.

LUCIANO CALDERÓN
- Bem, o nosso tempo está acabando. Amanhã receberemos aqui, no Salão Nobre da prefeitura outro candidato da eleição do ano que vem, o polêmico Sr. Guilherme Tortas e sua proposta de acabar com a desigualdade na ilha, zerando todos os salários e instituindo uma renda universal geral. Para encerrar, candidato, qual a mensagem que o senhor gostaria de deixar para a população de Corrumpo?

FERNANDO ANDRADE
- Eu gostaria de repetir o slogan do Partido Genérico, aquele que já está na boca do povo:
Acreditamos no que você acredita!

 LUCIANO CALDERÓN
- Realmente lindo, e de onde veio a inspiração para esta frase tão linda?

FERNANDO ANDRADE
- É bíblico.

LUCIANO CALDERÓN
- Senhoras e senhores, Fernando Andrade! Uma salva de palmas. - Sobe a plaquinha e a plateia ovaciona o candidato pela última vez.

 

 ***

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terça-feira, 8 de novembro de 2022

PEQUENO TEATRO DA LIBERDADE - 10 / 14


Ato X - A exposição

Ainda entusiasmado com a proposta de campanha do candidato do partido Genérico, o público se levanta e vai deixando o enorme Salão Nobre. Jonas escuta que outras atividades estão programadas para aquele dia especial, inclusive, a inauguração de uma nova e sensacional exposição no museu, na ala leste da Prefeitura. Segundo ouviu, aquela exposição marcaria época como sendo a mais igualitária e a mais justa exposição de arte de todos os tempos. Ele fica ansioso para conferir e vai acompanhando a multidão que segue em peso para conferir a novidade. Ao chegar no grande vão de acesso, Jonas observa as pesadas letras de bronze acima do portal, onde se lê: “MUSEU PÚBLICO DIRCE TRAMÓIA”. Uma multidão se acotovela diante da obra principal logo na entrada, encobrindo a visão de Jonas.

CONSELHEIRO 1
- Maravilhoso! É realmente estonteante, uma obra esplendorosa! - Ele gesticula efusivamente, querendo mostrar aos seus colegas que tem muito bom gosto, pavoneando toda a sua erudição e o seu vernáculo.

CONSELHEIRO 2
- Sem dúvida alguma, trata-se de uma obra magnífica, é realmente primorosa!!! - Fala alto, fazendo caras e bocas exageradas, tentando parecer ainda mais virtuoso, erudito e empolgado que o colega.

JONAS
- Droga! Não consigo ver nada... - Reclama Jonas, alternando pequenos pulos e agachamentos, tentando ver alguma coisa até que percebe a presença de um funcionário do museu) - Quem sabe aquele senhor possa me ajudar. Olá, boa tarde! O senhor poderia me informar o que há ali? O que é tão formidável e maravilhoso que aqueles senhores ali elogiam tanto?

FUNCIONÁRIO
- Shiuuuuu! Queira falar mais baixo, meu rapaz, por favor... - levando o dedo indicador até a boca e repreendendo Jonas.

JONAS
- Desculpe, mas, o que tem ali? Quem são aqueles senhores?

FUNCIONÁRIO
- Estes senhores fazem parte do Comitê de Artes do Conselho. Eles acabam de inaugurar a amostra pública da mais recente aquisição para o nosso acervo de belas-artes. - Responde, olhando Jonas por cima de seus grandes óculos grossos.

JONAS
- Que interessante (sussurra), eu adoro artes. Deve ser uma obra muito pequena, né? Não consigo ver nada daqui… mas, tenho certeza, deve ser muito linda! - Estica novamente o pescoço, tentando ver alguma coisa.

FUNCIONÁRIO
- Isso, depende. Para alguns, é tudo; para outros, é o nada. O universo em sua plenitude, com tudo (olha para a mão direita) e, com nada (olha para a esquerda) ao mesmo tempo… veja, veja agora! - A multidão diminui e ele aponta a obra para Jonas. - O nome da peça é
Tudo Vazio.

JONAS
- Mas eu não vejo nada... - aperta os olhos, tentando ver algo além da parede em branco à sua frente. 

FUNCIONÁRIO
- Ai que está! Impressionante, não? Nada capta melhor a essência humana do que a obra
Tudo Vazio. É a mais perfeita equidade de sensações, proporcionada pela plenitude do nada. Atinge a todos de maneira absolutamente idêntica e livre, cada um podendo exaltar a sua consciência sem limitações, sem padrões, como quiser... - Responde, com uma expressão vaga e sonhadora.

JONAS
- Então, não tem nada ali mesmo? É isso? (Pergunta, irritado) Como o nada pode ser arte?

FUNCIONÁRIO
- O nada é o que torna a peça a mais perfeita expressão de arte igualitária. O Comitê de Artes do Conselho sempre foi criticado por favorecer os seus próprios gostos, ou o gosto dos seus amigos. Foram acusados até de barrar obras de arte, dizendo que elas não eram boas ou que tinham qualidade ruim. Chegaram ao cúmulo de barrar algumas peças por serem (fazendo aspas com as mãos)
de mau gosto… como é que pode? Veja se isto é possível, que coisa mais elitista!

JONAS
- E por que não tentaram trocar o comitê, então? Por que não colocaram outras pessoas para escolher as obras?

FUNCIONÁRIO
- Ah, sim, tentaram várias vezes. Mas aqueles que não faziam parte do comitê nunca concordavam com os que participavam dele. Então, desistiram de trocar o comitê e o Conselho dos Iluminados sugeriu um método de escolha objetivamente subjetivo: uma loteria! Desta forma, todo mundo poderia participar! Os Iluminados cobram uma taxa da população e todos podem participar da loteria e apreciar as obras vencedoras.

JONAS
- Mas por que não deixam que as próprias pessoas decidam se querem ou não participar e escolham as obras de que mais gostam, em vez de cobrar de todos e de premiar uma obra aleatória.

FUNCIONÁRIO
- Que absurdo! Pense, (batendo com os dedos na própria cabeça) pense em quantas pessoas egoístas que não comprariam peça alguma, e também nas outras que poderiam ter mau gosto, não mesmo! Os Iluminados estão certos ao apoiar as artes, e fazer isto da maneira mais igualitária possível. Ninguém pode reclamar do sistema de loteria.

JONAS
- O senhor acha mesmo que as pessoas ficam felizes sendo obrigadas a pagar por esse tipo de arte? - Pergunta Jonas, incrédulo, apontando para a parede em branco com as mãos espalmadas.

FUNCIONÁRIO
- É uma bela seleção, não é mesmo?
Tudo Vazio... (cruzando os braços, em contemplação) ninguém pode discordar da qualidade artística ou do estilo poético desta verdadeira obra de arte.

JONAS
- É, discordar… discordar do que?

FUNCIONÁRIO
- Exato! É praticamente impossível que ela possa ofender alguém, é perfeita!

JONAS
- Mas não tem nada... - Jonas apenas gesticula, mexendo os lábios sem soltar nenhum som.

FUNCIONÁRIO
- Garoto, venha cá. Eu percebi que você não entende muito de arte, está tudo bem, de verdade. O importante mesmo é entender como as diferenças, seja na arte ou nos pensamentos, podem fazer as pessoas ficarem muito infelizes, aqui, bem no coração (colocando a mão sobre o peito de Jonas). Você precisa conhecer o Grande Inquisidor!

JONAS
- O que é o Grande Inquisidor?

FUNCIONÁRIO
- Não é o que, é quem, ele é o maior sábio de Corrumpo! Vá conhecê-lo, e toda essa confusão mental na sua cabecinha vai acabar. Ele estará lá no coreto da praça, daqui a pouco. O Sol ainda não se pôs, corre que dá tempo. - Jonas sai em disparada para ver o tal sábio. Mais pela curiosidade do que qualquer coisa, afinal, se todos em Corrumpo são malucos, então ninguém é maluco.

 

 ***

 

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PEQUENO TEATRO DA LIBERDADE - 11 / 14

Ato XI - O grande inquisitor

OS ÚLTIMOS RAIOS DO POENTE sobem pelas paredes das casas e refletem o vermelho vivo dos telhados mais altos enquanto a população acomoda-se com tranquilidade no gramado bem cuidado da praça. Jonas encontra um bom lugar e senta bem perto do singelo coreto. Estava muito curioso para ver o tal sábio. O Sol agora é apenas uma lembrança distante nas nuvens mais altas, insuficiente para aquecer o corpo de Jonas que arrepia com a leve brisa do fim da tarde. Sem perceber, o murmúrio da gente emudece e uma figura esguia e muito magra, toda vestida de preto, caminha a passos largos e escala os degraus do pequeno coreto. Os olhos do Grande Inquisidor encaram a multidão silenciosa, somente os grilos e o leve farfalhar das folhas na copa das árvores vazam o silêncio.

GRANDE INQUISIDOR
- A paz é guerra! A sabedoria é ignorância! A liberdade é escravidão! - A voz pausada e firme ecoa por toda praça e bate forte na alma de Jonas. Todo os demais parecem não se importar, nem esboçam qualquer reação. Como num ímpeto, inconformado e não entendendo o significado daquelas palavras, Jonas levanta seu braço e pergunta:

JONAS
- O que o senhor quer dizer com
liberdade é escravidão? - Ouve-se um “ohhhh” generalizado. Nunca, jamais, alguém ousou questionar qualquer fala do Grande Inquisidor. Muito menos lhe fazer perguntas! O grande sábio olha para baixo, procurando pela criatura insignificante que ousou questioná-lo e responde em alto e bom som:

GRANDE INQUISIDOR
- A liberdade é a maior carga sobre os ombros dos homens! A liberdade é o grilhão mais pesado que uma alma pode carregar!!! - Grita em êxtase, erguendo os braços e cruzando os punhos sobre a cabeça. As pessoas concordam e Jonas, intrigado, estica novamente o seu braço.

JONAS
- Por que a liberdade é um peso? O que há de errado com ela? - Insiste, procurando entender o significado daquelas palavras.

GRANDE INQUISIDOR
- A liberdade é um peso monumental que homens e mulheres não podem carregar porque requer, não... porque ‘exige’ o uso da mente e da vontade. Imaginem o terror! (Urra de dor e horror) Ai! Imaginem só o pavor de serem responsabilizados por todas as suas decisões, por todas as suas escolhas… a angústia de ter a liberdade absoluta de tomar decisões, inclusive, até as mais terríveis! Imaginem, por um momento, a sua consciência, o peso, o senso de responsabilidade! O livre arbítrio é puro pesadelo (o tom de sua voz vai aumentando e ficando cada ve mais agressivo) e a responsabilidade de tudo será sua, exclusivamente e completamente sua! - As pessoas viram as cabeças, escondendo os olhos e tapando os ouvidos de tanto medo e pavor daquelas palavras. Jonas, um pouco hesitante, levanta seu braço novamente.

JONAS
- O que o senhor quer dizer com
responsabilidade? - Extremamente irritado com a impertinência daquele moleque, o sábio fecha os olhos e, como por mágica, muda completamente de atitude, relaxando a postura e respondendo a Jonas de maneira afável e agradável. Ele vira as costas e desce vagarosamente os degraus do coreto, onde arranca uma pequena plantinha do solo e a mostra para as pessoas, caminhando em direção a Jonas.

GRANDE INQUISIDOR
- Meus irmãos e minhas irmãs. Eu sei que é difícil para alguns de vocês compreenderem a natureza do perigo do qual lhes falo. Fechem os olhos, mentalizem por um instante esta minúscula e indefesa planta em minha mão. Este frágil broto... fixo, enraizado, imóvel sobre o solo, nada é de sua responsabilidade, tudo o que ela faz é predestinado… ah, como são felizes as plantas! Agora, imaginem uma lagarta. Sua única preocupação é... comer. Comer e comer, até que um belo dia ela vai se
fechar em um casulo e virar uma magnífica borboleta (as pessoas estão encantadas com a narração, concordando em voz alta com o sábio, todas, exceto Jonas). Tudo o que a lagarta faz é predestinado, ela não escolhe nada, apenas é. Nem a planta, nem o animal sofrem com a vertigem da liberdade, eles não têm angústias com escolhas ou com valores, eles nunca podem estar errados!

MULTIDÃO
- Sábio! Sábio! Sábio! - As pessoas aplaudem e gritam em coro, comovidas.

GRANDE INQUISIDOR
- Agora, meus irmãos (pedindo silêncio com as mãos), olhem, olhem ao seu redor, imaginem  o ser humano. O ser humano em toda a sua fraqueza, com todos os seus defeitos, as suas dúvidas. Qualquer um de nós, qualquer um pode fazer uma escolha errada, ter uma valor errado, e uma escolha errada pode trazer dor e sofrimento a outra pessoa… por isso, eu lhes digo: a simples consciência do mal potencial os fará sofrer e esse sofrimento é…
responsabilidade! - As pessoas estremecem, agarram umas as outras, apenas imaginando a simples possibilidade de serem responsáveis por algum mal.

GAROTO
- Oh, por favor, sábio! O que podemos fazer para nos livrar deste peso terrível? - Pergunta um garoto assustado, sentado ao lado de Jonas.

GRANDE INQUISIDOR
- É uma tarefa difícil mas, juntos, nós conseguimos superar esta ameaça, é exatamente essa a função dos Iluminados, são as pessoas mais inteligentes de Corrumpo pensando juntas, tirando o peso das decisões diárias dos nossos ombros (a multidão aplaude, feliz). Agora vão, meus filhos, vão para suas casas. - As pessoas se levantam e saem da praça. Jonas vai atrás do sábio, para fazer uma última pergunta. Ambos se olham fixamente até que ficam a sós e Jonas quebra o silêncio.

JONAS
- Fazer com que as pessoas confiem o seu destino nas mãos dos Iluminados é tirar delas qualquer chance de pensarem, de serem elas mesmas! Elas podem até ser felizes assim, mas é uma felicidade falsa, não é real. A felicidade é uma conquista, é para quem se esforça, quem erra mas aprende a tomar as decisões corretas. 

GRANDE INQUISIDOR
- Escuta, garoto, não precisamos de pessoas virtuosas, precisamos de pessoas felizes. Se os Iluminados dizem que essa felicidade é real, então, ela é real. Da mesma forma, se eles disserem que
sumir com alguém que está perturbando a ordem pública por ai é algo bom… então, isto também será correto... - Jonas entende o recado e sai correndo em disparada, sem sequer olhar para trás, só ouve a risada maquiavélica do tal sábio ficar cada vez mais distante.

 

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