terça-feira, 23 de maio de 2023

PEQUENO TEATRO DA LIBERDADE - Ato 01 / 14

 ATO I - A tempestade

EM UMA CIDADE ENSOLARADA À beira-mar, de plácidas orlas e belos montes, de serras frondosas e cristalinas fontes, que muito depois seria conhecida pelo mundo todo como a do Janeiro maravilhoso e das Américas o encanto, vivia um jovem chamado Jonas. Menino bonito, sincero e inteligente, passa o dia ocupado, em tarefas domésticas ou ajudando o pai no pequeno armazém de pescados da família.

Entre o porto e o antigo forte de São Thiago no Morro do Castelo, onde mora em um modesto casebre, Jonas aproveita as horas vagas para timonear seu pequeno barquinho pela grande baía, da qual conhece bem as correntes e onde devora horas descortinando novas praias e reentrâncias. Vez ou outra, como que arriscando suas habilidades, ousa singrar para além do grande maciço granítico que guarda a entrada da baía, sonhando ver um navio desconhecido ou um grande monstro marinho, como nas histórias que os pescadores contam lá no armazém de seu pai. Suas aventuras náuticas, porém, sempre terminam com o seu estômago roncando de fome ou a garganta ressecada reclamando de sede, obrigando-o a voltar com o seu barquinho e postergando as aventuras.

É uma manhã úmida de setembro. Os brotos já estão virando flores e o orvalho solta um aroma agradável, mistura de água com mato que invade as ruas e lembra os homens de mais um equinócio, do abrir de mais uma primavera.

Jonas acaba de sair da missa na Igreja de Santo Inácio e desce com pressa a rua Santa Luzia em direção à praia. Quer aproveitar o vento favorável da manhã e partir para mais uma aventura em alto-mar. Desta vez, vai precavido, pois pretende ir mais longe e atracar em alguma ilha deserta, onde possa procurar por tesouros perdidos de algum pirata francês ou corsário inglês, quem sabe, até descobrir os restos encalhados de algum antigo galeão português.

- Goiabas, bananas, uma ninhada já preparada com peso e o anzol, um saco com iscas, cantil cheio, um pacote com biscoitos e um pouco de pão. - Jonas vai carregando o pequeno barco com mantimentos, preparando-se para partir. - Meu capote também, caso o tempo vire.

Como fosse algum tipo de premonição ruim, Jonas apanha o capote e sente um arrepio de frio subir pela espinha. Faz o sinal da cruz e, confiante, empurra o seu pequeno barco para a baía. Dali a pouco, já estava passando rente à arrebentação das pedras sob as bocas de ferro da Fortaleza de Santa Cruz e rumando para o mar aberto como se fosse o próprio Aquidabã, majestoso, com seus oito canhões desafiando a ditadura militar daqueles generalecos bagunceiros. 

“Bummm!” Imitando com a boca os disparos de tiros de canhão do velho casaca de ferro em direção à cidade. - Bummm! Tomem mais essa! Agora vamos, tripulação, atravessar o oceano e resgatar a imperatriz Redentora na Normandia! Avante! - Brincava Jonas, enquanto avançava entre as largas marolas do mar aberto, sem perceber que as pesadas nuvens de tempestade aproximavam-se de oeste.

Apesar de não ter muita experiência em mar aberto, sente-se cada vez mais confiante e ignora o vento que bate cada vez mais forte. Não demora muito para que o pequeno barco comece a chacoalhar sem controle entre as ondas, inutilizando qualquer esforço de Jonas em tentar regressar em segurança para a baía. A terrível ventania só piora e Jonas larga os cabos, encolhe-se junto ao piso da proa, segura firme com as mãos espalmadas nos dois lados da embarcação e reza a Deus para que poupe a sua vida.

 - Pai Nosso que estais nos céus,
santificado seja o Vosso nome,
venha a nós o Vosso reino,
seja feita a Vossa vontade
assim no mar como no céu.

Jonas reza sem parar... usando as palavras como seu único escudo contra aquele mar enfurecido.

 - Pai Nosso que estais nos céus,
santificado seja o Vosso nome,
venha a nós o Vosso reino,
seja feita a Vossa vontade
assim no mar como no céu. 

Lembra-se das palavras do padre na Igreja de Santo Inácio naquela manhã: “Não rezem muito rápido, meninos, senão Deus não vai entender o que vocês estão querendo dizer” e, tentando se acalmar, ora mais devagar:

- Pai nosso… que estais… nos céus… santificado seja… o Vosso nome… Vem uma onda bem maior do que as outras e desaba sobre o pequeno barco, quebrando o mastro e quase joga Jonas ao mar. Jonas volta a se desesperar e termina aquela oração ainda mais rápido que as anteriores, - Traz logo o reino, a Sua vontade, e me ajuda!!! - Grita Jonas cheio de angústia, enquanto o seu barquinho some em meio às altas ondas e à tempestade assustadora.

O dia se confunde com a noite. Uma espessa neblina engole a pequena nave de Jonas, envolvendo-a em um turbilhão de incontáveis ondas, incessantes por toda madrugada. Na manhã seguinte, o vento da tempestade se esvai e o barco bamboleia por entre a névoa, com o mastro quebrado e as velas completamente rasgadas.

- Água… água… - balbucia Jonas, esticando a língua para aproveitar as gotas que escorrem dos velas esfarrapadas e molhar a boca seca. A neblina se desfaz e Jonas percebe o tênue contorno de uma ilha, - Terra… terra! Uma ilha! - Grita, feliz por encontrar terra firme. Abaixa-se e começa a remar com os braços, apoiando a barriga na lateral do casco de madeira. As ondas carregam o pequeno barco para a praia de areias brancas e muitas palmeiras. Parece muito com a sua terra mas não reconhece nela nada de familiar. Logo que pisa na praia arenosa percebe a presença de árvores frutíferas e, apesar de extremamente cansado, põe-se a devorar o que vê pela frente.

JONAS
- Pitanga… -, colhe e morde de uma bocada só, - ...banana... - pega e come, quase sem descascar, - ...goiaba! - Larga tudo para comer a goiaba. Feliz por estar vivo, mas também bastante preocupado, percebe que não está sozinho naquela ilha. - Peraí… alguém plantou essas árvores aqui de propósito, não é uma ilha deserta. Que tipo de gente será que vive aqui? Será que são pessoas boas ou não? Bem, onde quer que eu esteja, isto não é nada entediante!

 

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PEQUENO TEATRO DA LIBERDADE - Ato 02 / 14

 ATO II - Os encrenqueiros

AVANÇANDO FLORESTA ADENTRO pela estreita trilha de terra, Jonas vai devorando a sua goiaba  quando dois homens, afobados e corpulentos, passam apressados por ele. Eles vão quase lado a lado, como dois tratores, derrubando a vegetação e amassando as flores e o que mais lhes atravessa a frente. Com rápido reflexo, Jonas pula para fora do caminho como a mosca que, do tapa, escapa rente. Ainda no chão e assustado com a trombada que evitou, Jonas ouve um pedido de socorro.

MULHER
- Socorro, me ajudem!!! - Jonas corre em sua direção mas os brutamontes já haviam carregado a mulher trilha adentro. No caminho ele avista uma clareira onde um grupo de pessoas se reúne ao redor de uma árvore, batendo nela com pequenos bastões de madeira. Vai pedir ajuda a um homem que os observa e que parece ser o chefe do grupo.

JONAS
- Olá, por favor, o senhor poderia me ajudar? Dois homens enormes acabaram de sequestrar uma mulher, ela precisa muito de ajuda, o senhor precisa chamar alguém ou...

 CHEFE
- Calma. Acalme-se, meu jovem, está tudo bem... não precisa mais se preocupar com aquela mulher perigosa. - Diz o homem, interrompendo Jonas.

JONAS
- Mulher perigosa? Eles a levaram à força... não entendo -, responde, todo confuso.

CHEFE
- Uma CRI-MI-NO-SA -, separando as sílabas para dar mais ênfase. - Você acredita que ela veio até aqui e... olhe só que ousadia! Na maior cara-de-pau, ameaçou o emprego de todos esses homens!

JONAS
- Aquela mulher pequena, uma criminosa? Fosse tão perigosa como o senhor diz, por que ela gritaria por socorro? Desculpe, mas qual foi o crime assim, tão grave, que ela cometeu? Como ela pode ameaçar o emprego de todos aqui?

CHEFE
- Oras, mas que pergunta! Venha comigo, menino... - leva Jonas até o grupo de lenhadores. - Nós somos lenhadores, nosso trabalho é derrubar árvores e conseguir madeira. É a única coisa que esses homens sabem fazer -, pega um bastão de madeira e repete o gesto dos lenhadores, - Bater, bater e bater... quantas vezes for preciso! Para derrubar uma árvore grande como esta precisamos de oitenta, até cem homens, trabalhando dia e noite sem parar, as vezes, durante um mês inteiro!

 JONAS
- Entendo, mas o que foi que ela fez? Como foi que ela os ameaçou?

CHEFE
- Você acredita que
aquelazinha venho aqui hoje trabalhar com um bastão diferente? Ele tinha uma peça de metal afiado amarrado na ponta e em poucos minutos... sozinha, acredita? SOZINHA! Derrubou uma árvore que dez de meus homens levariam horas para derrubar! Um horror! Um pesadelo... - descreve a cena terrível com as mãos tremendo e os olhos arregalados.

JONAS
- Acho que entendi. O que o senhor está me dizendo é que aquela mulher... aquela pequena mulher, apareceu para trabalhar hoje com uma ferramenta que derruba árvores de uma maneira muito mais rápida? E mais barata também, pois não precisaria pagar tanta gente para conseguir madeira... e isso, não é uma coisa boa?

CHEFE
- Mas, como é que você se atreve??? Como encoraja uma loucura dessas? Este é um trabalho duro, um trabalho digno, e não é um fracote qualquer que vai aparecer aqui com uma ideia maluca e sair ameaçando o emprego suado desses bons homens! - Responde o chefe, todo ofendido.

 JONAS
- Eu tenho certeza que eles são inteligentes mas eles poderiam fazer outras coisas se eles tivessem mais madeiras, como mesas, armários... quem sabe, até casas! -, diz, tentando não ofender o homem.

CHEFE
- Ouça aqui seu intrometido o objetivo desse trabalho aqui não é ficar inventando, fazendo coisas novas, o objetivo aqui é garantir emprego para todo mundo! Emprego seguro e que nunca falte! O que é que você quer? É algum tipo de encrenqueiro?

JONAS
- Não, não senhor, não quero causar problema algum... o senhor tem toda razão, preciso ir agora! -, Jonas recua e volta sem demora para a trilha de onde viera, apressando o passo, sem olhar para trás.

 

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PEQUENO TEATRO DA LIBERDADE - Ato 03 / 14

 ATO III - Velas e casacos

Como alguém pode reclamar de uma ideia tão brilhante como aquela? Jonas está muito triste com o que acabou de presenciar, sem entender nada. Para onde será que a levaram? O que eles farão com aquela mulher? Segue pela trilha, cabisbaixo e pensativo, quando chega num riacho e nem percebe que uma velha senhora vem vindo. Ela veste um casaco de lã perdulário, vindo rápido em sentido contrário. Os dois se encontram na pinguela no meio do córrego, dando uma trombada, quase caindo e molhando a canela. Jonas a segura pela mão e evita que a velha e o grande papel amarelado caíssem na água.

JONAS
- Mil perdões, minha senhora! Venha, eu a ajudo. - Diz, ajudando a velha a se equilibrar.

VELHA
- Ai… ui… você quase me derrubou, garoto… ajuda-me! Cuidado com o meu casaco… olha o meu casaco! Cuidado!

JONAS
- Desculpa, desculpa. Porque a senhora está vestindo um casaco de lã neste calor?

 VELHA
Dá uma esticadinha no casaco e empina o nariz para responder. - Eu sou a representante dos fabricantes de casacos e velas e estava indo me encontrar com os lenhadores, isso, até você quase me derrubar! A propósito, (pegando uma medalhinha dourada no bolso do casaco peludo) você poderia assinar o meu abaixo-assinado? - Devolvendo o papel amarelo que Jonas acabou de lhe entregar.

JONAS
- Bem, não sei… (olha para o papel em sua mão, depois se vira para o caminho da trilha) a senhora sabe me dizer se esta trilha leva para uma cidade? - Devolve o papel amarelo para a velha.

VELHA
- Você é desta ilha, meu jovem?

JONAS
Jonas hesita por um instante mas responde convicto - Eu… ah, eu sou da costa, é que eu me perdi!

VELHA
- Ah, que bom! Siga por esta trilha e você vai encontrar a cidade. Antes, porém, poderia assinar o meu abaixo-assinado? Ajudará tantas pessoas... poderia, hein? - Entregando o papel amarelado novamente para Jonas.

 JONAS
- Claro, claro. (Pegando a caneta da velha senhora) Se significa tanto para a senhora. Para que mesmo é que serve esse abaixo-assinado? - Pergunta, assinando o papel e devolvendo-o à velhinha, cheio de pena dela, suando debaixo daquele casacão em um dia tão ensolarado, indo pedir assinaturas aos lenhadores lá na praia.

VELHA
- Este é um pedido para proteger os empregos e a indústria. Você é a favor dos empregos e da indústria, certo?

JONAS
- É claro que sou! - Responde rapidamente, arregalando os olhos de pensar no que acontecera àquela pobre mulher sequestrada há pouco, perto da praia. - E como exatamente este abaixo-assinado ajudará?

VELHA
- Se eu conseguir colocar aqui neste papel um número suficiente de assinaturas, o Conselho dos Iluminados fará tudo ao seu alcance para ajudar os setores que eu represento.

JONAS
- Dos fabricantes de casacos e velas. - A senhora concorda, sorrindo e acenando com a cabeça. - E como eles fariam isso?

 VELHA
- Mas não é óbvio, meu filho? Banindo os produtos estrangeiros que prejudicam os meus negócios aqui na ilha! Esse abaixo-assinado é para o banimento do Sol! - Mostrando o valioso papel amarelado a Jonas.

JONAS
- Do Sol!? Como… hã… o quê??? Como assim banir o Sol? - Protesta Jonas, perplexo com a proposta estapafúrdia.

VELHA
- Eu sei, eu sei… (enrolando o papel amarelado) eu sei que parece meio drástico e tal mas, você não percebe, o Sol prejudica os fabricantes de velas e os fabricantes de casacos. O Sol é uma fonte externa muito barata de luz e de calor. Bem, isto simplesmente não pode ser tolerado!

JONAS
- Mas a luz e o calor do Sol são de graça.- Conclui, rindo daquela insanidade toda.

VELHA
- É esse o problema! Você não percebe? Segundo os meus cálculos, o fato de o Sol oferecer luz e calor de graça,
de graça, (enfatiza) reduz em pelo menos 50% o potencial de empregos e salários dos setores que eu represento. É uma coisa óbvia! - Responde, ofendida. - Quem sabe os Iluminados não criem uma pesada taxa sobre as janelas, quem sabe eles não proíbam as janelas! isso já melhoraria sensivelmente a situação! - Sorri, imaginando esta nova possibilidade.

JONAS
- Mas se as pessoas pagarem essa taxa aos fabricantes de casacos e velas pela luz e pelo calor, elas terão menos dinheiro para outras coisas, como carne, bebida ou pão. - A velha esconde rapidamente o papel amarelado, antes que Jonas mudasse de ideia e pensasse em retirar a sua assinatura.

VELHA
- Veja só, eu não represento os açougueiros, nem os cervejeiros ou os padeiros e, obviamente, o senhor não está interessado na preservação de empregos ou de salários... deve ser apenas outro tonto, interessado nos seus próprios caprichos de consumo. Passar bem, meu jovem! - Encerrando bruscamente a conversa e seguindo o seu caminho até a clareira onde estão os lenhadores.

JONAS
- Eu hein? Banir o Sol! Que maluquice...

 

 

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segunda-feira, 22 de maio de 2023

PEQUENO TEATRO DA LIBERDADE - Ato 04 / 14

 ATO IV - O ZOOLÓGICO

Jonas retoma a sua caminhada e parte em busca da cidade. Ainda tentando entender aquela situação absurda da senhora querendo proibir o Sol repara, mais adiante, que há uma bifurcação na trilha. Um pequeno trecho leva até um descampado onde estão duas grandes jaulas e uma placa de madeira, informando em enormes letras garrafais que ali era a entrada do Zoológico. Logo abaixo da placa, está um senhor gordinho com chapéu azul, de aparência muito agradável, vestindo um uniforme da mesma cor do chapéu e que parecia ser da polícia ou de algum tipo de autoridade. Ele percebe a presença de Jonas e o chama, acenando com o braço e caminhando em sua direção.

POLICIAL
- Como vai, meu jovem? Seja muito bem-vindo ao Zoológico de Corrumpo! Como você é o primeiro visitante do Zoológico no dia de hoje, eu faço questão de lhe oferecer uma visita guiada! Qual é a sua graça, meu belo rapaz? - pergunta, colocando a mão no ombro de Jonas.

 JONAS
- Jo... Jonas. - Responde, gaguejando.

POLICIAL
- Vejo que nunca veio ao zoológico, estou certo? Ah... Claro que estou! Venha por aqui, venha... observe. Deste lado, temos uma grande variedade de animais que o zoológico trouxe de todas as partes do mundo! Do deserto mais seco à floresta mais chuvosa.

JONAS
- Nossa, são muitos... impressionante!

POLICIAL
- E essas grades mantêm os animais em segurança. (batendo com o cassetete nas grades enormes) Assim, as pessoas podem vê-los e os cientistas podem estudá-los. Sem as grades, eles estariam por aí, fazendo bagunça e perturbando a sociedade com seu comportamento desregrado.

JONAS
- Essas grades são enormes e são muitos animais! Acredito que deva ter custado uma fortuna para trazê-los até aqui, cuidar, alimentar...

POLICIAL
- Mas que nada! Ninguém gasta um centavo, quem paga tudo é o governo, hahaha! - Gargalha alto, rindo da inocência do garoto.
- Mas o dinheiro do governo vem dos impostos e todos que pagam impostos também estão pagando os gastos do Zoológico, correto? No final, todo mundo, sem exceção, paga essa conta.

POLICIAL
- Todo mundo, sem exceção! Claro, bom, sempre tem alguns que procuram fugir da responsabilidade... dizendo que (imitando uma voz grossa)
não gosto de zoológico ou porque acham que os animais deveriam (fazendo voz fina) ficar em seu habitat natural... enfim... quando esses cidadãos se recusam a sustentar este belo zoológico nós o removemos de seu habitat natural. Assim, essas pessoas exóticas podem ser estudadas e ficam impedidas de perambular por aí, prejudicando a sociedade com o seu comportamento indisciplinado. - Vira-se para a grade do outro lado e bate o seu cassetete na porta de ferro com grande estardalhaço para que todos ali dentro da jaula o ouçam.

JONAS
- Mas, mas... animais... pessoas... (apontando para os lados) você não pode... você está me dizendo que quem se recusa a pagar pela manutenção do zoológico fica preso aqui? Como animais, para todos verem? - Questiona, completamente atordoado com aquela situação maluca.
- Bem, não apenas os que não pagam seus impostos, temos também outros tipos de criminosos: temos falsificadores, charlatães, aproveitadores, pessoas sem carnês, sem licença de trabalho, sem alvará de construção, os rouba-empregos, os que servem comida sem inspeção ou não obedecem as normas de habitação. Temos também... - A expressão de Jonas muda quando ele ouve rouba-empregos, lembrando-se da mulher que foi presa naquela manhã e ele interrompe o policial.

JONAS
- Peraí, peraí, espera um pouco... (levando as mãos à cabeça, ligando os pontos) o senhor disse
ladrões de empregos?

POLICIAL
- Sim, chamamos esses espertinhos de
rouba empregos, são pessoas que não respeitam a autoridade dos sindicatos, eles simplesmente destroem milhares de empregos com suas invenções irresponsáveis e não têm nenhum tipo de remorso ou de consideração pelo próximo, nada! Se quer saber meu jovem, são o pior tipo de gente que há.

JONAS
- Por acaso, o senhor não reparou se chegou algum desses
ladrões de empregos hoje aqui? Uma mulher, talvez? - Mulher... hoje? Não, meu jovem. Não recebi ninguém hoje, MAS! (apontando o indicador e virando-se para a grade do outro lado, sem perceber que Jonas sai de mansinho, sem ele perceber, voltando para a trilha) Eu recebi um lindo espécime de símio... você sabe, os símios são os parentes mais próximos do homem, uma pena que não falam a nossa língua... você sabia que... meu jovem? Para onde ele foi?
 

 

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quinta-feira, 11 de maio de 2023

PEQUENO TEATRO DA LIBERDADE - Ato 05 / 14

ATO V - Dinheiro infinito

ANTES QUE O POLICIAL LHE PEÇA UM documento, uma licença ou alguma coisa parecida, Jonas escapa de fininho. Tudo aquilo para ele era uma imensa maluquice! Haveria de ter uma explicação. Como era possível prender as pessoas só por não gostarem de alguma coisa? Jonas pensava, levando as mãos à cabeça, que tudo aquilo era uma tremenda loucura, ele não conseguia entender. 

Jonas caminha de volta para a trilha e segue agora pelo outro caminho. Após alguns minutos de caminhada, por entre as árvores em menor número, descortina-se a silhueta de uma cidade, para espanto e felicidade de Jonas. Havia lá, muitas casas e uma multidão que carregava coisas, para lá e para cá. Finalmente, ele poderia encontrar uma maneira de voltar para casa! Bateu a poeira das roupas, endireitou a coluna e prosseguiu, até que parou de frente para uma grande casa, onde se ouvia o ruído de muitas máquinas trabalhando. “Deve ser o jornal local, eles devem ter uma resposta”, pensou, ouvindo o barulho de muitas impressoras. Jonas observa um casal elegante passando e pergunta a eles.
 

JONAS
- Por favor, poderiam me informar onde fica a entrada desta casa?

CAVALHEIRO
- E por qual motivo você deseja entrar na Casa da Moeda, meu jovem?

JONAS
- Casa da Moeda? Eu pensei ter ouvido o barulho de impressoras, não é de um jornal?

CAVALHEIRO
- Sim, trata-se realmente de grandes impressoras e, não, não se trata de um jornal mas, da grande Casa da Moeda de Corrumpo.

JONAS
- Ah... eu esperava encontrar um jornal, com informações que me ajudassem a entender as coisas. Quem sabe, até como voltar para casa. - Responde, desapontado e triste.

DAMA
- Pois anime-se, meu jovenzinho. Aí dentro eles imprimem montanhas de dinheiro todos os dias. Muito dinheiro, para deixar as pessoas bem felizes!

JONAS
- Que boa ideia! Então, eu também poderia imprimir bastante dinheiro e comprar uma passagem de volta para casa, quem sabe, poderia comprar até meu próprio barco! Uau!

 DAMA
- Não, não, não, meu jovem (reprovando Jonas com a cabeça), não, não, não! Isso é impossível.

CAVALHEIRO
- Veja bem, meu jovem, qualquer pessoa que imprima dinheiro sem a permissão dos Iluminados, será condenada por falsificação e presa. Não toleramos isso por aqui, entenda: quando os falsificadores imprimem e começam a gastar muito por aí, quem recebe esse dinheiro todo, também começa a gastar muito... logo, com muita gente gastando muito dinheiro, todos os preços sobem e tudo fica cada vez mais caro!

DAMA
- Quem comprava três pães, no outro mês, não consegue comprar mais que um. Isso, rapazinho, chama-se “inflação”. Ela faz com que o dinheiro que as pessoas recebem passe a valer cada vez menos, pobrezinhas...

JONAS
- Eu não entendo. A senhora havia me dito que imprimir dinheiro deixava as pessoas felizes. Como elas podem ficar felizes se imprimir mais dinheiro as deixa... mais pobres? - Pergunta, contrariado.

DAMA
- Sim, você está certo... contanto que...
- ...contanto que seja uma impressão permitida pelo governo! Quando o dinheiro é oficial, então aqueles que o emitem não são ladrões. Na verdade, quem escolhe como gastar esse dinheiro são os Iluminados.

DAMA
- Os Iluminados são muito generosos! Eles gastam esse dinheiro em projetos para as pessoas leais que gentilmente votam neles.

JONAS
- Só mais uma pergunta, acho que não entendi ainda: Vocês me explicaram que o valor do dinheiro diminui quanto mais dinheiro é impresso. Isso também acontece quando é o governo que imprime o dinheiro? E todos concordam com isso?

DAMA e CAVALHEIRO
- Claro que concordamos! Entreolhando-se e respondendo ao mesmo tempo.

DAMA
- Há tantas prioridades, tantos necessitados que precisam de ajuda... pessoas com fome, pessoas sem um teto para morar, muitos idosos doentes, precisando de remédios...

CAVALHEIRO
- Os Iluminados estudaram muito bem as dificuldades da ilha e concluíram que as principais causas dos nossos problemas são,
primeiro, o azar e, em segundo, o clima. Certamente o azar e o clima são a causa dos aumentos de preços e da queda do nosso padrão de vida... e... tem também os estrangeiros. - Fala a última frase baixinho, ao pé do ouvido de Jonas

DAMA
- Ah! Os estrangeiros... estão sempre tentando arruinar a nossa pobre economia. Tentam nos vender alimentos e roupas a preços prejudicialmente baixos e assim, destruir nossos empregos. Ainda bem que os Iluminados que sempre os tratam com muito rigor.

CAVALHEIRO
- Sorte que temos esses sábios para decidirem o que é bom para nós. Vamos, querida, estamos atrasados. Boa sorte, meu rapaz. - Despedem-se de Jonas e voltam a caminhar.

 

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